A aposta da Agência Pública em uma experiência de membership com o Programa Aliados
Fundada em 2011 por repórteres mulheres, a Agência Pública têm voz ativa na divulgação e fortalecimento do jornalismo nativo digital no país. É dela o Mapa do Jornalismo Independente, projeto que mapeou iniciativas digitais independentes. Ela também é uma das organizadoras do Festival 3i, evento de discussão sobre inovação no jornalismo totalmente organizado por empreendimentos que nasceram na rede.
Primeira agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos do Brasil, o veículo é referência quando o assunto é inovação em formatos e modelos de negócio, além de colecionar prêmios e reconhecimentos pela qualidade jornalística. Por não se tratar de um veículo comercial que se orienta pelo lucro, a diversificação de receitas é parte fundamental da iniciativa.
A Pública foi o site jornalístico que inaugurou as campanhas de financiamento coletivo no Brasil, em 2013. Como forma de sustentação, ele também conta com o aporte financeiro de duas organizações filantrópicas, a Ford Foundation e a OAK Foundation. Outros recursos são provenientes de editais e patrocínio a projetos e eventos.
Nesta entrevista ao Farol Jornalismo, a cofundadora da Pública Natália Viana explica os princípios que norteiam o jornalismo sem fins de lucro, além de abordar os diferenciais e as mais recentes apostas do veículo em produções e estratégias de negócio.
Alinhada a uma tendência que vêm norteando jornais ao redor do mundo, o veículo lançou em 2019 o Programa de Aliados, uma campanha de financiamento recorrente que aposta na aproximação com os leitores e disponibiliza recompensas aos apoiadores. Modelo que está alinhado ao conceito de membership.
O projeto foi desenhado com base em três metas de receita. A primeira delas, de R$20 mil por mês, já foi alcançada. Com esse recurso, o veículo promete aumentar em 20% sua produção jornalística.
A contribuição dos leitores também foi dividida em faixas de valores. Os apoiadores que doam R$10 por mês, por exemplo, terão direito a uma newsletter exclusiva, contato direto com o Editor de Audiências (outra aposta do modelo) e acesso à votação em entrevista do mês. As recompensam aumentam proporcionalmente ao valor doado.
Um dos responsáveis por pensar a nova estratégia de financiamento da Pública, o jornalista Caio Costa falou a esta reportagem sobre a estruturação da campanha, seu desenvolvimento e os motivos que levaram a agência em investir no modelo de membros.
Qual foi a inspiração para o lançamento do aliados, e qual seu objetivo principal?
O programa foi lançado em maio deste ano. Começamos a conceber o projeto em janeiro. Diria que são dois objetivos principais: aumentar a produção de reportagens e, mais a longo prazo, ampliar a participação dos leitores no financiamento da Pública.
A inspiração tem algumas fontes diferentes. Nós conversamos com algumas organizações com modelos de financiamento semelhantes. Algumas delas nem eram mesmo organizações jornalísticas. Essas conversas foram essenciais para elaborarmos o projeto. Destaco especialmente o ElDiario.Es, que foi certamente uma grande inspiração. Conversamos com a diretora do programa de Membership, que nos ajudou muito.
“Os feedbacks são valiosos e é importante que o apoiador perceba o que o apoio dele propicia. Por isso, temos que manter contato frequente”
Outra fonte importante é a nossa experiência com campanhas de crowdfunding. Contratamos uma consultoria que fez entrevistas com apoiadores e nos ajudou muito a formular nossas metas e recompensas, e o discurso todo do projeto.
Vocês tiveram que criar toda uma estrutura de pagamento pelo site, além do investimento na campanha de divulgação. Foi muito custoso tirar o projeto do papel? Teve algum aporte específico para o projeto?
Sim, tivemos custos consideráveis. Havia o tempo inteiro pelo menos duas pessoas focadas no projeto, eu e um desenvolvedor. Aliás, fazer uma estrutura própria foi uma das principais questões no início do projeto. Tivemos, inclusive, propostas de plataformas de financiamento, mas para ter maior autonomia e uma relação mais direta com os apoiadores, e, principalmente, por ver esse projeto como algo muito importante a longo prazo, decidimos criar nossa estrutura. Não houve nenhum aporte específico.
Quais já foram os retornos desde de que o projeto foi lançado? Vocês já conseguiram atingir a primeira meta de recurso.
Foram muitos. A verba toda que recebemos é aplicada em mais jornalismo. Conseguimos aumentar nossa produção de reportagens e já vamos começar a produzir podcasts. Quando batermos a segunda meta, vamos aumentar a frequência dos podcasts e, claro, produzir mais reportagens investigativas.
Por que investir nessa proximidade com os apoiadores? É mais uma nova aposta de marca, agora que vocês já são mais reconhecidos no mercado, ou é uma percepção de que o modelo de crowdfunding simples já não estava sendo efetivo para a Pública?
O senso de comunidade é importante para o sucesso do programa. Tivemos boas experiências com isso nos crowdfundings, com apoiadores ajudando a escolher pautas, por exemplo. Mas de maneira geral, os feedbacks são valiosos e é importante que o apoiador perceba o que o apoio dele propicia. Por isso, temos que manter contato frequente.